Pai, eu sorri quando você me abraçou pela primeira vez e dizendo meu nome me chamou de “minha filhota”. Você estava orgulhoso e apressado em me apresentar para seus amigos. Todos eles ao olharem para mim notavam a semelhança entre nós. Você, ao me observar, via a diferença. Um futuro que seria bem melhor do que o seu presente.
Pai, eu confiei em você em tantas oportunidades. Lembro de quando você segurava a bicicleta para que eu tivesse a certeza de que tudo estaria bem, e que mesmo se eu caísse você estaria por perto para me proteger. Você soube o momento exato de me deixar guiar a bicicleta sozinho, enquanto você me observava à distância.
Pai, eu notei a sua emoção ao me ver indo bem nos estudos, e alcançando as pequenas vitórias da vida. Algumas vezes você estava por perto e eu sentia sua mão no meu ombro como o mais significativo dos apoios que recebi. Entretanto, à medida que o tempo passou, aquela mão calorosa não estava mais por perto.
Pai, eu nunca me envergonhei de você, nem quando descobri que você não era o herói que imaginava. Você era humano, com tantas limitações e, ao mesmo tempo, fazendo um esforço tremendo para me dar o melhor. Um herói para mim não para o mundo. Um homem dividido entre a família, o trabalho, e a busca de afeto e afirmação em lugares distantes de nossa mesa de jantar.
Pai, eu me desfiz em lágrimas na hora do adeus. Foi a dor mais intensa. O choro mais profundo. A sensação de ter perdido alguém que eu tanto queria e também de ter perdido a batalha contra o tempo. Não haveria mais possibilidades de reinventar nosso relacionamento, de sorrir de nossos erros, e de poder dizer a você que no fundo, somos mais parecidos do que eu imaginava.
Pai, eu sempre amei você, e sempre vou amar! A quer saber? o sempre ainda é pouco. ♥
Dedicado a Joubert Freire, meu pai.