segunda-feira, 19 de julho de 2010

Tudo bem?


(Não vai adiantar eu te explicar como são e estão as coisas por aqui. Como vai tudo indo estranho e sem convicção. Ainda assim tenho deixado ir pra ver como tudo pode ser sem minhas habituais provocações e ansiosas intervenções. Juro, eu tenho tentando ser blasé, apática. É difícil. Não é bom. Mas, disso, acho, você não quer saber.

E se eu te dissesse que tenho sentindo muito frio nesses dias quentes, você entenderia? Que numa quarta-feira de manhã me senti tão sozinha a ponto de querer ir a uma feira-livre comprar uma melancia. Por acaso você sabe como eu não suporto feira-livre? E que não como melancia? Mas, quis ir lá ver que existe a vida real além destas paredes brancas. E para tentar provar para mim mesma que melancia não pode ser tão ruim assim. Nada pode ser tão ruim assim como está parecendo.

Será que você ouviria, sem irritação, que outro dia, arrumando minha estante, achei dentro de um livro um bilhetinho antigo que escrevi, mas não enviei. Era uma explicação, um pedido, uma declaração, uma tentativa. Tudo que, de perto, tão perto, jamais consegui verbalizar. E eu me culpo tanto pelas coisas não-ditas, tanto que desde então tenho pensado muito em entregar o tal bilhete. Só pra dizer, enfim.

Faz diferença pra você saber que depois daquela festa, que, sim, estava ótima, voltei pra casa chorando. Mais: que eu vivo por aí distribuindo sorrisos públicos e chorando escondido. Que eu quero fugir, mas não quero deixar nada pra trás. Que sinto saudade do que nunca tive. Que tenho ciúmes do que não é meu. Que todos os dias refaço planos, talvez por uma vontade inconsciente de não querer colocar nenhum em prática porque no fundo eu só esteja querendo ser salva pelo acaso. Que eu ouço Natiruts cantando Groove bom, tentando me convencer que é mesmo "um novo dia, uma nova vida pra mim e eu estou me sentindo bem". Mas, que apesar disso, tenho pensando muito na morte como experiência e outro dia até tomei um iogurte vencido. Nada além disso.

Às vezes, é tudo tão insuportável, que até parei de ler jornal para não saber dessas dores do mundo e não correr o risco de saber ainda mais das minhas. E você, que eu sei que logo mais vai comentar a última tragédia, suportaria saber o que eu sinto de verdade? Dessas dores que não são do mundo, mas são tão minhas? É. Deixa pra lá. Você só quer saber se está tudo bem).

- Tudo e você?

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